A medicina está em constante avanço e descobertas de tratamentos. Um exemplo é a evolução, nos últimos 50 anos, nos procedimentos para o câncer. Muitos tipos que eram considerados terminais agora não são mais. Mas, infelizmente, a radiação ionizante que auxilia na cura do câncer também pode danificar tecidos não-malignos e gerar um atraso na lesão por radiação que pode surgir meses ou até décadas após o término do tratamento.
É sobre as lesões por radiação atrasada e o tratamento com medicina hiperbárica que vamos abordar nesse artigo.
Etiologia
A radiação nos tecidos gera danos ao DNA, peroxidação lipídica e desnaturação de proteínas e consequentemente, morte e disfunção celular. Em praticamente todos os tecidos que demonstram efeitos tardios da radiação, há uma endarterite obliterante característica.
As pesquisas atuais mostram que o processo de lesão por radiação começa durante o período de tratamento e envolve a elaboração de muitas substâncias bioativas, especialmente citocinas fibrogênicas.
Fisiopatologia
Durante um tratamento, o tumor é tratado como uma massa esferoidal com o maior número de células-alvo no centro. Uma dose de reforço é administrada no centro do tumor. Onde há massa menor, a dose também é menor. No entanto, o paciente desenvolve uma área difusa adicional de lesão por divergência do feixe. As feridas por radiação demonstram uma endarterite progressiva e proliferativa que destrói o suprimento sanguíneo do tecido.
Não há tratamento satisfatório da necrose por radiação usando terapia convencional, o que impossibilita levar nutrientes e oxigênio adequados aos tecidos desascularizados. E, a reconstrução cirúrgica de tecido previamente irradiado tem uma taxa de falha muito alta devido à má cicatrização. Os tecidos irradiados tornam-se hipóxico, hipovascular e hipocelular.
Tratamento hiperbárico
Robert Marx fez uma grande pesquisa ao mostrar os benefícios da oxigenoterapia hiperbárica (OHB) no tratamento da osteorradionecrose da mandíbula em pacientes que receberam radiação na cabeça e pescoço. Ele mostrou que, para a OHB seja bem-sucedida, ela deve ser combinada com cirurgia e antibioticoterapia. Segundo Marx, o oxigenoterapia no período pré-cirúrgico é importante para melhorar a tolerância ao ferimento cirúrgico.
A OHB teve bom resultado no tratamento da necrose laríngea e outras necroses dos tecidos moles da cabeça e pescoço devido aos efeitos tardios da terapia de radiação. Ela melhorou a qualidade do tecido no pré e no pós-operatório.
Outros dados na literatura apoiam o uso da OHB na prevenção de lesões por radiação. Isso geralmente ocorre no cenário da cirurgia proposta dentro de um campo irradiado, onde a probabilidade de complicações e difícil cicatrização de ferida é alta.
Os pacientes que se submetem ao tratamento com OHB devem conversar com o médico hiperbárico e a equipe de tratamento e apresentar algumas informações para determinar o diagnóstico e o tratamento. Os dados necessários são: especificar a dose total recebida de radioterapia as datas administradas, uso de quimioterapia, resultados recentes de imagem para documentar que o paciente está curado de câncer e relatórios do médico responsável pela solicitação da consulta sobre medicamentos hiperbáricos.
Os protocolos de tratamento variam dependendo do tecido tratado. No caso de lesões por radiação atrasadas em tecidos moles e necrose óssea, o paciente pode receber de 20 a 60 tratamentos com OHB para tratar e atenuar os sintomas.
Uma equipe multiprofissional de medicina hiperbárica deve monitorar o paciente durante todo o tratamento.
Comments